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Bilhete de Identidade - memórias de 1943 a 1976, de Maria Filomena Mónica. Mais um livro recomendado pelo professor no curso do Cenjor que já mencionei - neste caso, dentro da categoria "autobiografia".
O que mais me interessou na descrição que me fizeram foi o facto de ser a história dos primeiros 33 anos de vida duma mulher - Maria Filomena Mónica, actualmente investigadora-coordenadora do Instituto de Ciências Sociais - e, igualmente, da maneira como todas as mulheres eram encaradas no tempo da ditadura, até 1975. Bem dito, bem feito. Abriu-me ainda mais para essa realidade muito anterior ao meu nascimento e de que, regra geral, só ouvira falar nas aulas de História ou graças aos relatos da minha avó. Curiosamente, ela e Maria Filomena Mónica só têm uma diferença de dois anos de idade, o que contribuiu em grande parte para que eu me interessasse tanto pelos relatos de epsiódios na Lisboa e na sociedade de antigamente que a autora partilha connosco.
Além disso, foi impossível não me impressionar com a sua garra e identificar-me com as suas tolices de jovem mulher.
No entanto, passemos aos aspectos mais literários da "coisa", com a crítica que deixei no Goodreads ao livro Bilhete de Identidade, de Maria Filomena Mónica.
Penso que esta terá sido a segunda autobiografia que alguma vez li e decidi fazê lo por a autora ter vivido numa fase de transição política e cultural em Portugal. Assim, graças aos relatos das suas experiências pessoais, é permitido aos leitores recuarem algumas décadas no tempo e perceberem, com toda a exatidão que uma visão individual permite, como se organizava a sociedade portuguesa antes do 25 de Abril de 1974 e até um pouco depois. Para quem, como eu, nasceu muito depois dessa data, este conjunto de memórias de Maria Filomena Mónica vem trazer alguma cor e textura àquilo que nos tentam ensinar ns aulas de História.
Outro aspecto que me faz adorar este livro é a própria personalidade da sua autora. Maria Filomena Mónica lutou toda a sua vida contra o estereótipo imposto acerca da mulher, insurgindo-se contra os tabús, as convenções (mulher enquanto mão e dona de casa) e o poder masculino numa sociedade patriarcal. Admiro a sua sede de experiências e de conhecimento, a sua persistência e coragem. Nalguns aspectos, faz-me lembrar a minha avó, na tentativa permanente de se emancipar do controlo alheio e de ser dona de si mesma, em particular.
O relato destes 30 anos de memórias pode parecer frio, distante e até arrogante. No entanto, é a ausência de floreados que deve ser louvada. A vida e como é e Maria Filomena Mónica conta a sua sem papas na língua. Fiquei com vontade de conhecer o resto da sua história, do seu "Bilhete de Identidade".