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Este ano, decidi que já tinha estaleca para voltar a ler Eça de Queirós. Quer dizer, ditou o destino que a faculdade me obrigasse a já ter estaleca para voltar a ler Eça de Queirós. Fez o destino muito bem, fez ele uma maravilha!
No ensino secundário, entre o décimo e o décimo primeiro ano, achei que ia pôr-me a ler Os Maias nas férias, para não ter de os ler obrigada uns meses depois. Pelo menos, teria a motivação de ler porque queria, e não porque alguém (ou um currículo nacional de disciplina) mo imporia.
Quis o famigerado destino que, na rentrée desse mesmo ano lectivo em que fiz o meu 11º, o grupo de professores de Português da minha escola alterasse a leitura queirosiana obrigatória para A Cidade e as Serras. Lixeeeeeeeeeeeeei-me. E Os Maias nunca passaram de metade, mesmo quando lhes voltei a pegar de início uns tempos depois. Quase seria escusado dizer que também nunca passei da página cento e pouco em A Cidade e as Serras. É que a minha aversão a ler por obrigação sempre foi fortezinha.
Bem, mas dizer que NUNCA passei da página cento e pouco em A Cidade e as Serras passou a ser exagero. Já passei a página cento e pouco, sim senhora! Aliás, já acabei o livro, pelo menos uma vez na vida - desde esta semana!
E que alívio foi, tornar a ler Eça de Queirós sem desgostar, tal como aconteceu com A Capital!, há uns meses atrás. Descobri que devo gostar mesmo do estilo queirosiano. Que se cale a ignorância literária (e não só) dos meus 16 anos!
Feitas as pazes com Eça, 'bora nessa da minha opinião acerca d'A Cidade e as Serras!
Adoro a escrita de Eça de Queirós. Como referi na minha review ao seu livro "A Capital!", mesmo quando existem repetições frequentes de palavras (quase icónicas, simbólicas do autor), a fluidez gramatical, as expressões utilizadas e todo o aparato vocabular de Eça são de se lhe tirar o chapéu.
Falando mais particularmente deste livro "A Cidade e as Serras", tenho a avisar futuros leitores que é necessária alguma força de vontade para ultrapassar certas fases menos dinâmicas da história. Principalmente quando os protagonistas, Zé Fernandes (também narrador) e Jacinto, se encontram em Paris, senti-me como se eu própria estivesse igualmente presa nessa capital. Se era esse o objectivo de Eça, transferir a angústia das personagens aos leitores, conseguiu. Nem o surgimento de outras personagens caricatas me motivou à leitura.
Finalmente, com o regresso a Portugal e a introdução à nova vida em Tormes, senti-me de novo satisfeita. Jacinto começou a mudar, começaram a acontecer-lhe peripécias que mais me fizeram lembrar outros romances de Eça de Queirós. Apareceu o amor sincero e a amizade foi, mais do que nunca, exaltada. A ode à simplicidade que as serras emanavam na escrita de Eça contagiou-me. Podemos ser felizes com tão pouco, não é? E não há nada como a comida portuguesa e os ares do campo, para nos curarmos das maleitas da cidade: o burburinho incessante e insistente, as distrações que nada nos distraem, a tecnologia da Civilização, a abundância de informação e estímulos, as pessoas-iguais-a-todas-as-outras, os vícios.
Adorei ler "A Cidade e as Serras", pelo que lhe atribuí 5 estrelas. O génio de Eça há que ser celebrado!